Nosso amor do passado.
Eis o filme que acabo de assistir.
O título em português engana. É, e ao mesmo tempo não é um drama ( contradição mesmo ), tão pouco possui aqueles famosos recheios dos romances melosos.
Nosso amor do passado mostra o reencontro (depois de muitos anos ), de um casal que um dia se envolveu, se apaixonou , se machucou , se perdeu e se reconstruiu em outras vidas ( tal qual, quase todas as histórias de amor que não deram certo ou deram certo o tempo que tinha pra dar).
Como Closer e Antes do por do sol , é um filme de diálogos longos ( quem gosta de ação , vai detestar ).E embora na minha humilde opinião, tenha faltado um pouco de doçura e poesia , sobre esse " passar do tempo " que os distanciou e sobre as lembranças que vêm a tona , as verdades estão todas alí.Junto com elas, a delícia " reconstruir " uma narração do começo , meio e fim ,do envolvimento de seus personagens com um humor inteligente.( É, diferente de mim , o roteirista preferiu mostrar que a " poesia e doçura" fazem parte do campo de ilusões que envolve um acontecimento assim ).
Quem de nós não já se imaginou a sós ( de preferência de madrugada , onde o planeta descansa e esquece um pouco da gente ), com aquele grande amor " mal resolvido" do passado? Eu já, incontáveis vezes.E em todas elas , por mais sonhadora e romântica que eu possa ser, é nítida a sensação de que estamos buscando um momento que "já era" , e que na maioria das vezes foi feito exatamente pra não se repetir e virar memória.
Depois de pensar que uma relação duraria pra sempre, e sobretudo depois de recuperar-se dos vestígios do outro, os reencontros em geral, nunca são como um conto de fadas..
Num determinado instante do filme, o cara pede pra que ela fale dele quando estavam juntos, e após tentar brincar com a resposta , vem aquela que dá sentido a tudo : "Eu o amava...eu o amava.Mas as vezes as pessoas que se amam de verdade, tem um talento excepcional pra se fazerem mutuamente infelizes".E falando do presente, completa :" Eu sou feliz.Eu acho que sou feliz.Mas vezes desejo um pouco de infelicidade.Posso ser terrivelmente romântica.Meu ex ( se referindo a ele ), me fez deliciosamente infeliz.".
Pode ser que o desejo não morra pra todo sempre, pode ser que a ternura exista em nome das coisas boas do passado, mas olhos nos olhos, teremos o fantasma daqueles pedacinhos que algum dia ficaram triturados, cada um deles com seu motivo, sua mágoa , seu pesar e seu ressentimento.E se a felicidade não está no presente ( que não escolhemos ), também não estava lá ( no passado), onde tudo teve fim porque alguém não se sentia inteiro ( ou os dois).
Encerrando o assunto, existe uma frase dita pelo cara ( depois do reencontro, da transa , da nostalgia, das verdades nunca ditas, da percepção que não é simples apagar erros e voltar a fita ), que resume brilhantemente o sentimento de quem ousa (re) viver um momento assim : " estou feliz por tê-la reencontrado.Mas de alguma forma, me sinto mais sozinho do que antes...o Leite que foi derramado não volta pra jarra. A xícara quebrada, sempre será uma xícara quebrada. "